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segunda-feira, 9 de junho de 2008






UMA OBSCURIDADE DE VANGUARDA


“Exposure”, de Robert Fripp, é um daqueles discos que são lançados apenas ocasionalmente. Essa é uma das peças mais esquecidas do chamado rock alternativo, pois esse disco não se enquadra em nada do que se possa taxar como progressivo, como costumam fazer os desocupados.

O que se tem aqui é uma mistura de música ambiental, música concreta, ruídos, materiais adicionados das mais diversas formas, baladas e rock da mais alta qualidade. Esse é um disco para quem entende de estética musical. Não cabem aqui rótulos, essa fórmula imbecilizante da mídia de compartimentar produtos em prateleiras. Mas é necessário que você tenha disposição de entrar em contato com um universo em pleno limite, próximo da tensão máxima. E em alguns momentos, é claro, bem dentro do clima dos desajustados.

Esse é o primeiro disco solo dessa entidade sagrada do rock mundial. Foi gravado em pleno ano de 1977, no âmago da crise da música pop universal. A disco music inundava as rádios com a sua gosma, enquanto que os punks cuspiam para cima e a mídia crucificava o rock progressivo, na esperança de encontrar o paraíso perdido da autodestruição dos seus ídolos fabricados para fornecer escândalos e rara maturidade.

No Brasil era o tempo em que os medalhões já demonstravam cansaço criativo, prenunciando uma série de lançamentos idiotas que inaugurariam os anos 80. Era o tempo em que os componentes da maioria das bandas do chamado Brock poderiam ter valorizado mais os cursos universitários, terem se formado, terem composto famílias saudáveis, assim poupando o vaso sanitário de tanta merda vindoura.

“Exposure” começa com diálogos em surdina seguida de uma harmonização vocal efêmera, para descambar em um telefone tocando a esmo. O que vem em seguida é pura criação abismal. Quem abre o disco cantando “You burn me up, i’m a cigarret” é Daryl Hall, desfazendo aquela imagem de queridinho da música pop, com um rock bem aos anos 50, mostrando que a viagem que vem tem origem lá, no mais puro rock, mas que pode ser adicionada de vários contextos, como as intervenções de ruídos e diálogos na mesma música. Está feita a magia.

“Breatheless”, em seguida, parece ter saído dos discos Red ou Timeless, do King Crimson, com uma paulada de baixo e bateria de tirar o fôlego, além das famosas linhas hipnóticas fripertrônicas nas guittarras. “Disengage” apresenta Peter Hamill cantando em seu estado mais desajustado possível, com uma banda pronta para passar por cima de qualquer cantor desavisado, um peso fora de série. O clima é quebrado magistralmente pela encantadora “North Star”, uma balada cheia de ambiências e climas de ruídos e materiais adicionais, essa paga toda a obra de Fripp. “Chicago”, a próxima, é um blues na voz de Peter Hamill, aparentemente mais comportado, mas só aparentemente.

O bicho começa a pegar logo em seguida, com a esquizofrênica NY3, com um arranjo cheio de intervenções, ruídos, diálogos descontrolados entre pais e uma filha, que brigam pela posse da casa e das responsabilizações psicológicas. O peso continua, baixo e bateria de tirar o fôlego. O clima é quebrado mais uma vez pela voz angelical de Terre Roche, que canta a bela balada “Mary”. Depois vem a música título do álbum, que resume toda a estética do disco: ambiências, ruídos, música concreta, diálogos, materiais adicionados e um vocal demente de Terre Roche, que grita desesperadamente a palavra exposure. Essa é uma verdadeira referência para qualquer um que se meta a fazer música alternativa. Isso é alternativo e não aquele chacundum que os descolados da mídia querem empurrar.

Todas as músicas subseqüentes trazem a marca de “Exposure”, com todos os ingredientes citados e alguns radicalismos a mais, - como é o caso de “Urban Landscape”, música concreta pura - alinhavados por uma banda extremamente competente. O casamento das vozes de Peter Hamill e Terre Roche acontece na impagável “A may not have had enough me but i’ve had enough of you”, uma viagem ao mundo bizarro de Fripp, com Narada Michael Walden quebrando tudo na bateria.

Após duas músicas ambientais, cheias de climas, entra a voz poderosa e dramática de Peter Gabriel, velho amigo de Fripp, cantando a profética “Here comes the flood”, é hora de dar adeus à carne e ao sangue e mergulhar nesse clima inebriante. A faixa perfeita para encerrar uma obra-prima.




A banda:




Robert Fripp - guitars, frippertronics, voice
Daryl Hall - vocals, piano
Terre Roche - vocals
Peter Hammill - vocals
Peter Gabriel - vocals, piano
Tony Levin - bass
Jerry Marotta - drums
Narada Michael Walden - drums
Phil Collins - drums
Brian Eno - synthesizer, voice
Barry Andrews - organ
Sid McGinnis - rhythm guitar, pedal steel guitar

Um comentário:

Carlos Rafael Dias disse...

Tive esse disco, adquirido, com certeza, no sebo de disco e livros Et Cetera.
Lembro ainda da belíssima North Star, minha predileta nas audições. Confesso, que nunca entendi direito a música de Robert Fripp. Mas, que sempre me intrigou e cativou, isso sim...
Certo que preciso fazer agora uma revisão dessa obra, sob as "oiças" desses tempos atuais.