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Um buscador, nem sempre perdendo, nem sempre ganhando, mas aprendendo sempre

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A mulher barbada

Depois que você estiver pronto
Depois de enfiar três balas nele
Enquanto o abridor de latas
enferruja a sua solidão na gaveta
Você verá a mulher barbada sorrir
uma careta estranha por dinheiro

Por vinte e três anos ele sentará
Sangrando no sofá da sua sala
Por vinte e três anos você ouvirá
O barulho da morte em sua cabeça
Sem que ninguém impeça que a
A mulher barbada venha lhe buscar

O passado sobrevive em retalhos
Mesmo quando é rasgado por inteiro
Você sobe ou desce uma escada e
Está lá contando piadas sujas
Por vinte e três anos você não
Poderá sorrir nem por dinheiro

No auto-falante Paulo Sérgio cantava
Seus sentimentos embalsamados
Não era possível perceber que
A inocência se sufocava aos poucos
Espremida entre a sua mão e a dele
Um pouco antes do espetáculo
O atirador de facas

Mesmo assim assim
existe uma velha vaca
espreitando o destino
o passado nega a eletricidade
necessária para ela ruminar
as palavras solidão amor e tangência

As coisas acontecem
para que os jornais possam mentir
o verdureiro diz que os seus alfaces
podem estar contaminados
essa é a sinceridade que
uma salada crua precisa para existir

Mesmo assim
ainda existe um novo destino
espreitando uma vaca nova
o futuro nega a cumplicidade
necessária para ele abandonar
a tragédia que existe em si

Já o atirador de facas
encara destemido o seu desafio
o público suspira um momento e
logo se entrega ao delírio de ver
a culpa nua montada em um
pônei geneticamente modificado