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segunda-feira, 22 de setembro de 2008



Hermeto Pascoal ao Vivo
Em Montreux Jazz


Naquela noite única de 1997, quando Claude Nobs anunciou Hermeto Pascoal como sendo qualquer coisa de inacreditável, com um inesperado senso de improvisação, harmonia, composição e execução, vindo da distante e múltipla música brasileira, ele não sabia exatamente que estava fazendo parte de um momento iluminado, singular, repleto de transcendência musical e espiritual. Estavam lá no palco, junto com o mago Hermeto, todos os deuses da natureza, tocando e encantando.

Em todas as músicas do repertório daquela noite o público foi brindado com o mais alto nível de improvisação que um músico pode desenvolver. É um momento sobrenatural. A capacidade criativa de Hermeto e banda, aliás, umas das maiores bandas já formadas no Brasil e no jazz universal, é de uma grandeza incabível em palavras. A interação do mago com seus músicos e com a platéia é qualquer coisa inexplicável, são momentos de criação viva, na hora, música brotando no suor.

Hermeto tocou tudo que se possa imaginar: piano, clavinete, sax soprano, sax tenor, clavieta (escaleta), flauta, e improvisação de voz. Em todos esses instrumentos ele quebrou tudo, o seu improviso de escaleta em “Lagoa da canoa” é fantástico, ultramoderno, cheio de swing, harmônicos, vozes de embocaduras e escalas nada diatônicas, em um instrumento extremamente limitado. Essa mesma faixa começa com um solo de bateria de Nenê,que não tem explicação plausível. Essa obra-prima ainda tem um solo de tenor de Cacau que é de outro mundo. Nivaldo Ornelas dá uma aula, nessa mesma música, de ritmos e pegadas brasileiras em um sax soprano, através de saltos de notas e intervalos inacreditáveis. A faixa termina em apoteose.

Esse é apenas um dos momentos mágicos desse show. A faixa “Remelexo” é uma improvisação de voz de Hermeto Pascoal, em que ele transcende e faz da voz um instrumento de improvisação, com escalas e letra ao mesmo tempo. A banda não conta conversa e entra na onda.O chorinho “Fátima”, vira o maior jazz, com uma improvisação de Hermeto Pascoal na escaleta, o instrumento que ele está tocando na capa do disco, em cima de uma harmonia mais do que complexa. Ele não só reinventa esse instrumento como reinventa as possibilidades de improvisação em uma seqüência harmônica de desempregar muitos músicos.

Em “Terra verde”, “Maturi” e “Quebrando tudo”, Hermeto avessa o clavinete, que é outro instrumento muito limitado, que nas mãos do bruxo ele ganha cinqüenta mil oitavas. Hermeto Pascoal nessas músicas, que são emendadas pelos improvisos, faz citações de outras e encontra atalhos atonais descomunais, além de descobrir timbres jamais escutados nesse instrumento, em um desafio de solfejo e teclas histórico, com a banda esbanjando dinâmica. Aliás, que banda é essa, velho? Dá vontade de chorar de tão emocionante que é ouvir esse disco.

Nenê de bateria; Itiberê Zwarg no contra-baixo; Jovino dos Santos de harmonias impossíveis ao piano e clavinete; Zabelê e Pernambuco nas percussões diversas; e mais Nivaldo Ornelas, sax tenor e soprano; Cacau, sax tenor e soprano. Eis os ingredientes da poção mágica do bruxo Hermeto. Esse show histórico era pra terminar com a fenomenal “Forró Brasil”, uma delirante linha melódica, rápida e cheia de acidentes. Mas o público não deixou e ele voltou com a delicada faixa “Montreux”, composta no hotel, especialmente para o festival. O público ainda delirou com os improvisos “Voltando ao palco” e “E adeus” , para encerrar definitivamente aquela magia inesquecível e histórica.

Esse é um disco único.

7 comentários:

Rodolpho disse...

Sabe Marcos isso é uma confissão, enquanto a maioria dos seres humanos esperam por algo que vai ser revelado não sei quando, por não sei quem, porque alguém disse que disse e essa é a minha principal suspeita, Hermeto chega e me diz "Escute", eu escuto, ele pergunta "Você acredita?", eu acretido!
E acredito por se tratar de um homem (pelo menos biologicamente igual a todos os outros, só se provarem do albinismo se tratar de
algo mais e ainda dúvidas terei por se tratar de algo cientificamente ocidentalizado :D), um homem que aboliu a barreira entre Vida e Deus , fazendo disso sua estrada e a verdade se tornou música, só pode ser :D

Abraços Marcos...

Acabo de chegar do relançamento de "Cabelos de Sansão", mas sozinho e como diz o matuto cheio de fome resolvi voltar pra casa. Peguei meu CD e deixei os trinta minutos de atraso e uma possível segunda de noite sozinho numa parada do Cagão do Mar pra trás :D

Agora vou escutar, porque só tem gente de responsa nesse som :D

Falou...

Eu, Thiago Assis disse...

Cara, eu não conheço muito o jazz.
O que eu acho que é jazz e curto muito é Amy Winehouse, mas não tenho conhecimento se o estilo dela é mesmo jazz.

Sim, o meu blog é
http://www.thiagogaru.blogspot.com
Espero que goste!

Abraço

Marcos Vinícius Leonel disse...

Pois é, Rodolpho, ele é realmente extraordinário, é um caso à parte.

No festival CHAMA, realizado na chapada, (aeroporto do Crato), a banda Nacacunda defendeu uma música no dia do show dele e na passagem de som, além de assistirmos a uma mini-apresentação dele e banda, nós conversamos com todos eles nos bastidores por um longo tempo. Hermeto respondeu e atendeu a todos, com uma simpatia sem tamanho. A banda chegou a fazer uma brincadeira com ele, pedindo para que cada um desse um abraço nele, pra que a gente conseguisse tocar direito, ele riu bastante, abraçou a todos e disse que a gente já tocava muito. Foi um dia inesquecível.

Recebi os fanzines de vocês e gostei muito. Pena que eu não estava em casa para recebê-los. Vou fazer uma resenha sobre eles. Vocês já têm blog?

vlw

Marcos Vinícius Leonel disse...

Valeu Tiago, vou dar uma olhada no blog e colocar o endereço em vários outros blogs, inclusive no interblogscariri.

vlw

Eu, Thiago Assis disse...

Valeu Leonel, tanto pela divulgação quanto pelo elogio.
E o meu blog já não é tão recente, tenho ele desde Junho.

Abraço, e valeu de novo.

Rodolpho disse...

Quando aconteceu o CHAMA?

Quando estou no Crato nunca acontece
de ter um show de vocês, do Nacacunda. Por que heim?

Eu deixei o Panflerte em julho quando
estive aí. Demorou um pouco para chegar em suas mãos, né?

Não temos blog e ainda não conversamos sobre a possível criação de um, mas qualquer coisa
deixo notícias aqui e desde já fico gratíssimo com uma resenha sua :D

A turma gosta muito de literatura,
mas foi com o Panflerte que nos prometemos de escrever, o terceiro sai no máximo em quinze dias, e lhe envio logo, se quiseres posso mandar mais de um, caso queiras entregar para amigos, ok?

Abração Marcos.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Cara, o ano eu não lembro, sei que foi muito massa, a programação tinha shows de Cássia Eller, Chico Science e Nação, entre outros.

Vou fazer a resenha o mais breve possível, ainda essa semana. Vou postar em vários blogs. Logo em seguida eu faço a do Panflerte novo.

Cara, pode mandar sim, que eu distribuo entre os alunos, eles gostam dessas publicações.

A banda está parada no momento, pois eu e Igor estamos gravando, cada um, material individual, em projetos paralelos. A banda que estou gravando o material chama-se Colorado RQ, que era uma das marcas mais importantes de aparelhos de tv na década de 70.

abraços.