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segunda-feira, 11 de maio de 2009



Little Joy
Sonífero para cavalo


Através das esquinas que norteiam o chamado rock alternativo brasileiro é possível perceber que o pastiche e o simulacro dominam o que praticamente já nasceu dominado, com raríssimas exceções. Além da falta de originalidade e de talento, o que pesa ainda mais é a cara de pau de posar para imprensa como novidade. Esse é o caso do embrulho no estômago chamado Little Joy, liderado por Rodrigo Amarante, ex-Los Hermanos e Fabrizio Moretti, do The Strokes, que já nasceu possuído, com cara de ressaca e com o barulho de moedas velhas no bolso da calça.


Desde o último (?) lançamento do Jumbo Electro e de outras porcarias do gênero, eu não tinha escutado um disco tão ruim. Até parece que faz parte da estética indie não saber cantar e não saber tocar porra nenhuma. Mas a imprensa especializada em mercado adora esse ar blasé, essa melancolia de corno de balcão de bodega, essa sonolência de lombra de chá de zabumba, esse cheiro constante de merda sonora. O disco do Little Joy reinaugura a estética do entulho: só ocupa espaço e não serve para nada, nem mesmo para promoção dos dias dos namorados arrependidos de ter transformado um fica num problema.


Mas o último disco de estúdio dos Los Hermanos já anunciava o cansaço, o marasmo, a falta de criatividade da dupla de compositores da banda. É tanto que a ele se seguiram o horripilante ululante “Nós”, de Marcelo Camelo, e depois esse glorioso barbeador enferrujado, prostrado na margem direita do rio Tietê, que atende pelo singelo nome Little Joy (um trocadilho para pequeno prazer) engendrado nas entranhas da frieira mais macabra do dedo mínimo do pé esquerdo de Rodrigo Amarante e Fabrizio Moretti. Sem que a ficha tenha dado o ar da graça, eles, ainda como Los Hermanos, lançaram o pastelão da impostura, ao vivo, na Fundição Progresso.


O disco abre até com vontade de enganar o mais incauto dos desconfiados com a faixa “The next time around”, uma balada indecisa em ir para frente ou ir para trás, embalada com uma das letras mais babacas do disco. O clima retrô permanece na segunda faixa, “Brand new start”, uma das poucas que se salvam nessa inesquecível ruma de músicas ruins. “Play the part”, terceira faixa do disco, se supera em todos os sentidos: mal cantada, mal arranjada, mal tocada, melodia ridícula, letra imbecil, e o vocal de fundo... bem, o vocal de fundo é trágico, sem conseguir nenhuma raspa de comicidade. Essa faixa é só para quem segura o ovo esquerdo de Rodrigo e vigia o direito. Ruim é pouco.


“No ones better sake” é a única faixa que presta de verdade e tem uma pegada mais parecida com alguma coisa, mas nada que possa salvar a bruxinha se afogando. Logo em seguida o travesseiro definitivo é servido, uma obra prima de mediocridade. O famigerado vocal de fundo reaparece em “Unattainable”, cantada por Binki Shapiro, através da verdadeira fórmula do diazepan, e se prolonga em forma de anestesia para elefante na faixa seguinte, “Shoulder to shoulder”, que tem o solo de guitarra mais cretino do disco, e “With strangers”, que tenta parecer o lado imóvel do Los Hermanos. Aliás, dizer que existe alguma coisa musical nesse disco é muita generosidade. Little Joy é realmente pequeno e sem significado ou significante.


Já estamos na faixa oito do disco, “Keep me in mind”, e a cretinice se instala de vez. Essa faixa é um pastiche desacelerado dos Strokes, que vexame, que mico, justamente para quem já participou diretamente de dois dos maiores discos da história do rock brasileiro: “Bloco do eu sozinho” e “Ventura”. Não vou nem comentar a presença do músico Moretti, por que de fato ela não aconteceu, ainda mais com esse timbre ridículo de caixa e bumbo. Acho até que ele deveria ter arranjado algum tempo no Brazil e feito um curso intensivo com Pantico ou Pupilo.


Mas o pastiche continua na faixa seguinte, “How to hang a warhol”, em que parece que Juliann Casablancas, vocalista e líder dos Strokes, depois de tomar trezentas caipirinhas nos cabarés da Lapa, resolve dar uma canja.Binki Shapiro, namorada de Fabrizio e modelo profissional volta a atacar em, “Don`t watch me dancing”. Ao longo dessa cansativa audição, não sei se a banda tenta parecer Cat Power ou Cowboy Junkies, mas see que ela não conseguiu um mínimo de legitimidade. No entanto o tratamento mais radical contra a insônia só termina onze faixas depois, com “Evaporar”, um letárgico Rodrigo Amarante desfiando uma pífia filosofia sobre o tempo, que só faz reafirmar a certeza de que o primeiro disco do Little Joy é uma verdadeira perda de.


Eis os responsáveis:


Fab Moretti – guitarra / vocais
Binki Shapiro – vocais / teclados
Rodrigo Amarante – vocais / guitarra / teclados
Todd Dahlhoff - baixo
Noah Georgeson – guitarra / teclados

8 comentários:

Calazans Callou disse...

P...que los parios, que desgraceira é essa. Estou até com medo de te mostrar o que fiz com tuas letras.

LubLub não tem papas na língua. Ainda não escutei esse disco, mas vou escutá-lo.

Cara, o estudio tá quase pronto, está faltando só colocar o acabamento, estamos esperando a finalização do carpinteiro. no final do ~mês estarei aí novamente. E aí aquela de idéia de montar um som ainda tá de pé? é bom você estar nele, se não tô frito, frito nada torrado.rsrsr.

Abraços.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Pois é cara, pense num disco ruim, e o pior é que a mídia "especializada", acha autêntica essa sonolência do carilho.

Cara, você tem atitude, diz que faz e faza mesmo. Tô nessa. Disponível, nma real.

abraços

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Muito engraçado o texto, Leonel... você detestou mesmo o Little Joy, hein? rsrsrsrsrs

Não achei tão ruim assim... melhor do que o disco do Camelo...

E o "Quatro" do Los Hermanos que você gostava?

Abraços, companheiro

Marcos Vinícius Leonel disse...

Pois é, cara,
depois que recebi o Little Joy e fui escutar o 4, não deu outra, tive uma visão de continuidade inevitável. Mas em relação ao Little Joy, o 4 é uma obra-prima.

valeu

Xico Fredson! disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Xico Fredson! disse...

Lendo sua crítica sobre o disco da banda do Rodrigo Amarante, lembro de uma frase de uma música do Rappa: o novo ja nasce velho. Ou do Cazuza: um museu de grandes novidades. Parece ser mais fácil copiar do que criar, ou então fazer mal feito. No caso em específico do disco Little Joy, concordo contigo, Lexotan 6mg puro, e aplaudo o seu texto bem escrito e sem nenhuma economia no recurso da ironia. Mas gosto de algumas coisas do disco do Camelo, Nós, ou Sou Nós, tem algumas letras interessantes.
É isso cara, valeu pelo texto, muito bom mesmo.

Marcos Vinícius Leonel disse...

Valeu, ouvir estrelas,

tambném concordo com as letras interessantes de Nós. Acredito que os dois erraram a mão em suas tentativas solos. No meu caso eu não compro nenhum dos dois, mas se alguém me presentear não ficarei desapontado de todo.

abraços e obrigado pela postagem