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quinta-feira, 30 de julho de 2009



Macaco Bong
Instrumental sem macacada

Uma surpresa boa sempre rola bem. Quem me apresentou o som do Macaco Bong foi Manoel Barros, velho amigo de inúmeras viagens sonoras, transubstanciadas no velho Cariri cearense, com os pés sempre alocados no universal. Combatemos juntos na trincheira cultural dos sebos, eu com o Et Cetera e ele com o Alan Poe. Ele resiste firme com o Solaris, reduto de cultura e bons tempos. Sempre nos encontramos e falamos sobre música e a mercadoria sonora, essa puta velha, cheia de truques e manhas seculares. O Macaco apareceu no último encontro.

O Power trio cuiabano surpreende de várias formas. É rock instrumental, mas não é pirotecnia guitarrística esclerosada dos fritadores de plantão. É independente, mas não tem parentesco nenhum com a merdologia indie que assola os universos paralelos e alternativos. É fora do eixo sul-sudeste, mas não tem a pretensão de resgatar porra nenhuma da cultura popular. Além disso, não cabe em nenhum rótulo ou tags existentes na falida imprensa especializada. Macaco Bong é rock instrumental sem macacadas e sem a sombra sorumbática da virtuose. O que já é muita coisa.

A banda já foi um quarteto e já lançou dois Eps. Macaco Bong nasceu em 2004, em Cuiabá (MT). Recentemente a banda lançou o seu primeiro cd “Artista Igual Pedreiro”, que faz parte do excelente projeto do selo Trama: Álbum Virtual da Trama, em que você tem disponibilizado trabalhos integrais de artistas com downloud grátis, inclusive com direito a capa, fotos e extras. São iniciativas como essas que mantêm arestas para a verdadeira música respirar livremente, em meio ao intenso mercado escravo dos jabás. Eis o endereço da redenção: http://www.tramavirtual.com.br/. O endereço específico da banda Macaco Bong é : http://www.tramavirtual.com.br/macaco_bong.

Atualmente a banda é integrada por Bruno Kayapy (guitarra), Ynaiã Benthroldo (batera) e Ney Hugo (baixo). O som que essa garotada faz é uma mistura de rock, jazz, psicodelia, hardcore, noise, hard e pop. As dez faixas do disco apresentam uma verdadeira parede sonora, com texturas modais, mudanças de andamento, ruídos, climas, dinâmicas e tensões sonoras da mais fina origem da vagabundagem musical do rock’n’roll. Os timbres mudam, mas não com tanta freqüência. Praticamente não existem solos, só em duas músicas: “Bananas For you all” e “Compasso em ferrovia”. O som do Macaco Bong é para quem não se preocupa em encontrar a peça mais intelectualizada ou a composição mais fodona do universo.

Os destaques ficam por conta da magnífica “Fuck you lady”, com belas passagens acústicas e climas em oitavas de muita inspiração. A super densa, dissonante e psicodélica “Noise James”, com uma pegada de peso, com uma guitarra saturada na válvula e mudanças de timbres sutis. A super climática, com belo tema em oitavas e timbre de guitarra praticamente limpo, “Bananas For You All”, com direito a um solo econômico, com texturas de delay e chorus. E a mais surpreendente de todas, “Compasso em Ferrovia”, climática, meio jazz-rock, com solo modal e um sustain de guitarra infinito, que prenuncia uma parede experimental de ruído e tensão.



Macaco Bong é a prova de que nem tudo está perdido na cena rockeira brasileira. Se por um lado o rock brasileiro vive do pastiche comercial de bandas como NXZero e outras porcarias do gênero, por outro lado o caminho indie é repleto de porcarias que imitam outras porcarias gringas. Mas existe um caminho do meio, bem ao estilo Macaco Bong, capaz de proporcionar prazeres inimagináveis, com ou sem trocadilho.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O rodopio aperreado

Foi quando
Apareceram os espectros
E a multiplicação dos miasmas
Pelas cercanias guardadas
Por Deus e pela sua própria
Versão irada em risadas áridas
No seu favor está a vida
A sua ira dura só um momento
O choro pode durar uma noite
A alegria vem pela manhã
Assim se espera que
As esporas sejam esporádicas
E as lágrimas magmáticas

E riram
Descontroladamente
Todos os loucos
E copularam histéricos
Todos os infindáveis reclusos
E todos os inocentes apascentaram
Todos os incautos trêmulos
E todo o mijo foi vertido
Diante do imensamente inseguro
E estava todo o instável
Assim se vocifera que
As esmolas sejam imoladas
E as perdas perdoadas

Solano
Aquele dos dentes de ouro
Foi visto sorrindo para a morte
Mas ela não viu riqueza ali
Ele passou a morder o
Próprio desespero cadavérico
Joana das Trevas teve os seus peitos
Repartidos por sete desejos esganiçados
Teobaldo da Catingueira matou
Vivos e mortos sem qualquer piedade
Assim se considera que
As contas sejam recontadas
E as preces apreciadas

Pouquidão
Não é um mero nome
Pendiam de todos os lábios
Todas as palavras pronunciáveis e
Todas elas eram surdas mais que mudas
E toda sorte de cacarecos ali fora
Espalhada e nada foi juntado
E tudo se somava para diminuir
Justamente quando se mais ia
Mais se voltava em voltas
Assim se pondera que
As pragas sejam propagadas
E as dores adoradas

Farelentos
Os fazedores de estradas
Se foram daqui sem qualquer
Pernoite de angústias em hóstias
E se foram a sós tangendo todos os tatus
E todas as saídas ficaram em saias
Deixando para os sorrisos maternos
Como hímens aritméticos
O esguio máximo que há em um
Apurado de leite em pó
Assim se pondera que
Os peitos sejam respeitados
E os partos repartidos

Martiniano
Aquele das sementes sangradas
Furou seus furúnculos com
Filetes de balas perdidas
E de imediato cresceu ao seu redor
Um pântano de alucinações
Dídimo Sem Piedade contou
Com todos os seus dedos
E até o quanto pôde os dísticos
Que circulam uma maldição
Assim se pondera que
Os fardos sejam fardados
E os nomes nomeados

Imensidão
Foi o que Salete Sozinha viu
Ao olhar para o céu sem astúcia
E pedir ao Supremo o controle
Sobre os próprios dentes
Para que suas palavras de repúdio
Não tivessem sílabas amputadas
Já Eva de Tudor não pôde impedir
Que os gritos de sua prole se evadissem
Tomando rumos ignorados
Assim se pondera que
Os signos sejam signatários
E os ditos editados

Então vieram
Uma a uma e depois aos montes
As descendências túmidas
E de prontamente vieram me chutar
Não estranhei nada
Nem os olhos vermelhos
E assim as fizeram como assim
Eu bem sei que essas pedras
E essas lenhas todas são minhas e
Em fogo querem me pertencer
Assim se pondera que
Os fatos sejam fatiados
E os exércitos exercitados

E eu
Que já te vi nua
E agora envolta em névoa
E agora me enervando
Com tantos nomes e tantos retalhos
E tanto e tanto estraçalhar
Agora se me ergue em vapor de um
Vulcão voraz a estripar até vozes
A me dizer em zeros e vírgulas
Que não existe vazio sem vórtices
Assim se pondera que
As marcas sejam demarcadas
E as cóleras encoleiradas

E esse
Choro cheio de estiagens
Que eu vi refundar o despedaçar
É também por ti Eponina
Ele corre sem escorrer
Evacuado em vapores decimais
Assim eu procurei em vão
Por todos os sentidos
E todos eles se estilhaçaram
Por todos os desvãos
Assim se pondera que
As forças sejam reforçadas
E as farpas esfarrapadas

E partiram
Aqueles que foram destinados
E os deslocados revelaram as
Apostasias dos apóstolos
Eram trinta e dois os debruçados
E mais de cem incrustados
No vento em posição de feto
Eram setenta e três as orações
Cuspidas em línguas mortas
E só um o desespero maior
Assim se pondera que
Os sinos sejam assinados
E os amparos reparados

Foi quando
Eu vi Anunciada descendo
Pelas escadas flutuantes
Com trezentas entidades enrugadas
Seguras pelas goelas
Do cemitério recuado brotaram
Arcanjos sob uma árvore frondosa
Assim o cruzeiro primordial
Foi lavado com larva
Em divina dádiva atávica
Assim se pondera que
Os atentos sejam atentados
E as provas provocadas

Sem povo
O povoado era um ovo
Sem ovários irrevogáveis
O rio silencioso agora é um
Charco imóvel embebido em
Memórias remuneradas
Um peixe azul voa entre as
Borboletas sutis anunciando assim
Um narrador multiplicado
Para as divisões da história
Assim se pondera que
Os cursos sejam discursos
E os desertos desertados